Sábado à noite nos reserva várias surpresas, principalmente numa cidade como São Paulo.
Eu resolvi sair, fui pra uma balada aqui da Zona Sul chamada Maria Mariah. Já tinha ido outras vezes. No Maria Mariah a ordem é não ter ordem, promiscuidade ao extremo. Sexo na pista? Se estiver bem escuro, rola! Pois bem, era o que eu queria, queria descarregar um pouco de esperma em alguma vagina e não desperdiçá-lo no ralo do banheiro.
Era noite de pancadão, funkeiros e mais funkeiros, eu, claro, não conhecia nenhum. Mas um jovem Mc me chamou a atenção, um garoto com olhar avoado e corpo desnutrido, dançava de maneira curiosa, como se estivesse com o baseado mais forte na cuca, olhava as luzes da parte de cima do palco como se fossem cometas estáticos. Atendia pelo vulgo de Mc Zóio di Gato. Cantava feito uma garça esganiçada. Mas o que mais chamava a atenção, era que aquele garoto de 15/16 anos cantava o crime. Não, ele não denunciava o crime, os males da vida marginal, não. Ele cantava o crime, com alegria, com orgulho, com amor. O garoto cantava sobre quem vive sob a dura batuta do Primeiro Comando da Capital, o PCC. Era um problema social sobre o palco. Aos gritos, o público cantava cada sílaba desferida por Mc Zoi di Gato como se entendessem o que estavam cantando. Não, eles não sabem o que cantam. Era um problema social na pista. Alienação total, a massa confusa e marginalizada pela própria ignorância dançava e cantava os versos de culto à temida facção criminosa. O show do Mc Zói di Gato chegou ao fim e eu pensava comigo: Essa pessoa não chegará aos 20. Não chegou.
Na madrugada do dia 09/04 o automóvel em que estava Mc Zói di Gato, uma amiga e dois amigos, se acidentou, levando a vida de um jovem... Talentoso? Não. O talento dessa criança se resumia a versos terminados por "ão" ou "ar", cantados sobre batidas tocadas em loops infinitos. Não há talento nisso. Aliás, só chamo a atenção para seu falecimento, pois acho importantíssimo não fecharmos os olhos para esse problema. A classe média não pode passar a mão na cabeça da classe funkeira, como fez a Trip em matéria em que cita Mc Zóio de Gato como destaque da cena funk. Destaque? Destaco o mal que Gato causava em seus fãs, pregando a alienação, mesmo sem saber. A ignorância besuntada de glamour é muito mais perigosa. Era o que acontecia nos shows desse moço. Eu sei, pois presenciei uma de suas apresentações mais fervorosas em sua curta história na cena funk.